quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

A Imitação de Cristo

Do livro Imitação de Cristo , de Tomás de Kempis.
1 - Muita paz podíamos gozar, se não nos quiséssemos ocupar com os ditos e fatos alheios que não pertencem ao nosso cuidado.
Como pode ficar em paz por muito tempo aquele que se intromete em negócios alheios, que busca relações exteriores, que raras vezes e mal se recolhe interiormente?
Bem-aventurados os simples, porque hão de ter muita paz!


2 - Por que muitos santos foram tão perfeitos e contemplativos?
É que eles procuraram mortificar-se inteiramente em todos os desejos terrenos, e assim puderam, no íntimo de seu coração, unir-se a Deus e atender livremente a si mesmos.
Nós, porém, nos ocupamos demasiadamente das próprias paixões e cuidados com excesso das coisas transitórias. Raro é vencermos sequer um vício perfeitamente; não nos inflamamos no desejo de progredir cada dia;
daí a frieza e tibieza em que ficamos.

3 - Se estivéssemos perfeitamente mortos a nós mesmos e interiormente desimpedidos, poderíamos criar gosto pelas coisas divinas e algo experimentar das doçuras da celeste contemplação.
O que principalmente e mais nos impede é o não estarmos ainda livres das nossas paixões e concupiscências, nem nos esforçamos por trilhar o caminho perfeito dos santos.
Basta pequeno contratempo para desalentarmos completamente e voltarmos a procurar consolações humanas.

4 - Se nos esforçássemos por ficar firmes no combate, como soldados valentes, por certo veríamos descer sobre nós o socorro de Deus.
Pois ele está sempre pronto a auxiliar os combatentes confiados em sua graça:
Aquele que nos proporciona ocasiões de peleja para que logremos a vitória.
Se fizermos consistir nosso aproveitamento espiritual tão somente nas observâncias exteriores, nossa devoção será de curta duração.
Metamos, pois, o machado à raiz, para que, livre das paixões, goze paz nossa alma.

5 - Se cada ano extirpássemos um só vício em breve seríamos perfeitos.
Mas agora, pelo contrário, muitas vezes experimentamos que éramos melhores, e nossa vida mais pura, no princípio da nossa conversão que depois de muitos anos de profissão.
O nosso fervor e aproveitamento deveriam crescer, cada dia;
mas, agora, considera-se grande coisa poder alguém conservar parte do primitivo fervor.
Se no princípio fizéramos algum esforço, tudo poderíamos, em seguida, fazer com facilidade e gosto.

6 - Custoso é deixar nossos costumes; mais custoso, porém, contrariar a própria vontade.
Mas, se não vences obstáculos pequenos e leves, como triunfarás dos maiores?
Resiste no princípio à tua inclinação e rompe com o mau costume, para que te não metas pouco a pouco em maiores dificuldades.
Oh! Se bem considerasses quanta paz gozarias e quanto prazer darias aos outros, se vivesses bem, de certo cuidarias mais do teu adiantamento espiritual.
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Livro primeiro, capítulo XI, Da paz e do zelo em aproveitar.

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