Ex 12,1-8.11-14
Sl 115
1Cor 11,23-26
Jo 13,1-15
“Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que tinha chegado a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”.
Esta é a tarde que faz memória da Ceia Pascal de Jesus. Aquilo que o Senhor realizou durante toda a vida e consumou na cruz – isto é, sua entrega de amor total ao Pai, por nós -, ele quis nos deixar nos gestos, nas palavras e nos símbolos da Ceia que celebrou com os seus. Naquela Mesa santa do Cenáculo, estava já presente, em símbolos e gestos, a entrega amorosa do Calvário. É isto que celebramos neste momento sagrado, momento de saudade, de aconchego e de despedida. Era em família que os judeus celebravam o Banquete pascal… Jesus celebrou com seus discípulos, conosco, sua família: “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim,” até o extremo de entregar a vida, pois “não há maior prova de amor que entregar a vida pelos amigos” (Jo 15,13).
Hoje, neste final de tarde e início de noite, ele se fez nosso servo, ele lavou nossos pés, porque “não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” (Mc 10,45). Lavando os nossos pés, ele revelou de modo admirável seu desejo de nos servir dando a vida por nossa salvação.
Hoje, ele nos deu o novo mandamento: “Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz”. Assim fazendo, assim falando, o Senhor nos ordena, por amor a ele, a que nos sirvamos mutuamente, nos amemos mutuamente, nos aceitemos e perdoemos mutuamente, até dar a vida uns pelos outros. Eis nosso testamento, nossa riqueza e também nossa vergonha, porque tantas e tantíssimas vezes descumprimos o desejo do Senhor! Que contemplando o gesto do Senhor, hoje nos demos o perdão. Eu vos peço em nome de Cristo: reconciliai-vos em família, por amor de Cristo; reconciliai-vos na paróquia, nos grupos e movimentos de Igreja, por amor daquele que nos amou assim e nos deu o exemplo! Por Aquele que se deu a nós nesta tarde bendita, perdoemo-nos, acolhamo-nos, amemo-nos! É o único modo, caríssimos, de celebrarmos a Santa Páscoa no domingo próximo e de participarmos hoje desta Ceia bendita!
O Senhor – para que tenhamos a força de amar como ele, de confiar amorosamente no Pai como ele, de amar os irmãos como ele -, hoje, ele instituiu o Sacramento do amor, a Eucaristia. Hoje ele deixou-se ficar no Pão e no Vinho transfigurados pelo seu Espírito Santo, como sacramento do seu Corpo e Sangue, imolado e ressuscitado para ser nossa oferta ao Pai, nosso alimento no caminho e nosso penhor de ressurreição e vida eterna. Quanta gratidão, quanto reconhecimento, devem brotar do nosso coração! Seu Corpo por nós imolado, seu Sangue por nós derramado, Jesus por nós entregue – sacramento de um amor eterno, de uma entrega sem fim, de uma presença perene! Comungar hoje do Corpo e do Sangue do Senhor é não somente unir-se a ele, mas estar disposto a ir com ele até a cruz e a morte! Ah, irmãos, não façamos como Pedro, que prometeu, mas não cumpriu e negou o Senhor! “O cálice de bênção que abençoamos não é comunhão com o sangue de Cristo? O pão que partimos não é comunhão com o corpo de Cristo?” (1Cor 10,16). Que grande mistério, esta união de vida e de morte com o nosso Senhor pela Eucaristia! Não reneguemos na vida e nas ações aquele que hoje nos convida à sua mesa e conosco celebra a sua Páscoa!
Hoje, para presidir à Eucaristia e ser um sinal do Senhor, mestre e servidor, Cristo, na Ceia, instituiu o sacerdócio ministerial: aqueles que em seu nome e por sua ordem, deverão presidir à Celebração eucarística até que ele volte. Nesta tarde sagrada, rezemos pelo nosso Bispo e pelos nossos sacerdotes, para que sejam dignos de tão grande ministério e o exerçam como Cristo, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida!
Irmãos e Irmãs caríssimos, guardemos no mais profundo do coração os mistérios desta Missa na Ceia do Senhor. Um amor tão grande, uma entrega tão total deve mover nosso coração, deve nos fazer sentir compungidos, desejosos de abrir nossa vida para o Cristo e realmente caminhar com ele. Tudo, nesta Celebração, respira amor, fala de amor: recordem o cordeiro imolado da primeira leitura – é o Cristo que por nós é imolado; pensem no pão sem fermento que partimos e no cálice da aliança que repartimos, na segunda leitura – é ainda o Cristo que se deixa ficar entre nós e em nós, como alimento e vida nova, plena do Espírito do Pai; recordem o Senhor inclinado, lavando-nos os pés, dando-nos a vida e dizendo a você e a Pedro: “Se eu não te lavar, não terás parte comigo”– é o Senhor na sua pura entrega de amor por nós!
Por favor, nestes dias, celebremos estes santos mistérios pascais com piedade, espírito de adoração profunda e profunda gratidão para com Aquele que por nós quis entregar-se às mãos dos malfeitores e sofrer o suplício da cruz. Não fiquemos indiferentes, não sejamos frios: tudo quanto celebraremos foi por nós que o Senhor instituiu e para nossa salvação que realizou! E que pela Páscoa deste ano, ele se digne conduzir-nos à Páscoa eterna. Amém.
D. Henrique Soares da Costa
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